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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Como trabalhar com contos de aventura

Ensine esse gênero literário com atividades de leitura e produção de texto, focando suas características marcantes, como o emprego intencional de advérbios e a presença de um personagem que representa a sabedoria

Beatriz Santomauro (bsantomauro@abril.com.br)

Hora certa para leitura. Foto: Raoni Maddalena
HORA CERTA PARA LEITURA Durante o
desenvolvimento do projeto de contos
de aventura, as crianças do 5º ano da
EMEB Doutor José Ferraz de Magalhães
Castro liam durante 40 minutos por dia.
Além disso, participavam da sessão de
leitura em voz alta feita pela professora
e levavam obras para apreciar em casa.

Geralmente, as crianças estreiam no mundo dos livros com os contos. Os mais populares costumam ser os de fadas. Porém há vários outros que também devem ser apresentados a elas para que conheçam diferentes tipos de personagem, ambientação, desenvolvimento, estrutura de enredo e até de desenlace. O contato sistematizado com esse material é válido ainda porque colabora com o desenvolvimento do comportamento escritor, já que, para produzir textos, seja lá qual for o gênero, a turma precisa ter um repertório vasto.

Ciente disso, Eudes da Silva Alves, professora da EMEB Doutor José Ferraz de Magalhães Castro, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, desenvolveu um projeto didático com contos de aventura para trabalhar com os estudantes do 5º ano. "Os principais objetivos eram conhecer as características do gênero e escrever histórias. Para isso, a turma tinha de ler vários textos, é claro", ela explica.

O resultado foi a produção de um livro que agora faz parte do acervo da biblioteca da escola.

Advérbios e outras marcas textuais dão tom ao enredo

Conto de aventura que se preze prende o leitor à trama da primeira à última página, deixando o público ávido para descobrir o que vem pela frente e, evidentemente, como a história termina. Isso se deve a vários fatores, mas três deles são marcantes e imprescindíveis.

O primeiro é a organização do texto, feita de maneira a sempre deixar um clima de suspense e indefinição no ar, solucionado páginas depois. Isso pode ser feito com a divisão da história em segmentos. Desse modo, a narrativa é interrompida algumas vezes estrategicamente. Quanto melhor o desenrolar dos acontecimentos, mais a trama chama a atenção. "O bom autor sabe como e quando fazer pausas no texto e domina a maneira e o momento de retomar o assunto", explica Heloisa Prieto, escritora e doutora em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP).

Explorar essa característica foi um cuidado constante no projeto organizado por Eudes. Ao preparar a leitura em voz alta que fazia diariamente para a garotada, ela não somente se preocupava em escolher bons títulos. Estudava com dedicação as melhores partes para fazer pautas na leitura e gerar muita expectativa nos estudantes.

A segunda marca do gênero é o emprego de palavras específicas que revelam as mudanças repentinas, as interrupções no enredo e o clima de suspense. São os advérbios - termos invariáveis que modificam verbos, adjetivos, outros advérbios e até mesmo uma frase inteira e indicam diversas circunstâncias, entre elas, de tempo, modo e intensidade.

"Devagar, lentamente e repentinamente, por exemplo, revelam encontros com o acaso, a passagem de uma situação para outra ou que a realidade foge do controle dos personagens", explica Heloisa. É importante que os estudantes percebam isso e se apropriem desse recurso em suas produções - afinal de contas, a gramática é um conteúdo de verdade desde que seja usada na prática.

A terceira característica é a existência de um personagem que representa a sabedoria, como um mestre. Ele é responsável por ensinar coisas importantes para os demais integrantes da história e possibilitar o contato com valores.



Trabalho de autoria com qualidade requer muita leitura

Diversos títulos podem ser apresentados à garotada para iniciar um bom projeto de produção de histórias. Os que mais fizeram sucesso na sala de Eudes foram Os Melhores Contos de Aventura, entre mais de 30 títulos, que ficavam à disposição. Depois de muita leitura e análise de vários aspectos dos textos, Eudes distribuiu cópias com o início dos diversos contos de aventura lidos pelos estudantes e propôs que sublinhassem os recursos principais.

"Meu objetivo era fazer a garotada identificar jeitos de iniciar a narrativa e criar um repertório a ser consultado na hora de escrever os próprios contos", explica Eudes (leia o projeto didático). Ela também orientou que observassem como os profissionais fazem para retomar eventos que foram deixados em suspense.

Muitas aventuras saíram da cabeça da criançada para o papel e foram reunidas em livro, doado para a biblioteca da escola. No entanto, mais do que esse resultado satisfatório, Eudes fez a turma conquistar a intencionalidade para escrever, ensinando a estruturar as ideias e prender a atenção dos leitores, como fazem os bons autores profissionais. 

O conteúdo do 6º ao 9º ano
Para trabalhar com os alunos mais velhos, além de propor o estudo das características já citadas e a produção de histórias, uma atividade relacionada à verossimilhança leva a turma a pensar mais sobre os personagens da trama. "Um texto nunca diz tudo sobre alguém", diz Cláudio Bazzoni, selecionador de Língua Portuguesa do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Proponha que todos imaginem outras características para eles além das descritas pelo autor. Lembre-os de que é preciso levar em conta o contexto para não criar incoerências.

retirado de:http://revistaescola.abril.com.br


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